terça-feira, agosto 23, 2005

a lição das sanguessugas

Li este artigo admirável num certo jornal brasileiro:

"Li numa revista “New Yorker” recente que as sanguessugas estão de volta. Usadas há muitos anos na medicina para fazer sangrias — elas são simplesmente vermes que se atracam em animais e se alimentam do seu sangue — as sanguessugas aplicadas em humanos eram consideradas exemplos particularmente bárbaros de métodos primitivos, felizmente ultrapassados. Mas elas, aparentemente, nunca deixaram de ser usadas e agora estão voltando com prestígio redobrado. Existe um lucrativo negócio de criação de sanguessugas com um grande mercado mundial, não na medicina alternativa ou clandestina mas na terapia normal.

Fiquei sabendo que as sanguessugas não só são aparelhadas para fazerem incisões precisas e aderirem firmemente à pele como expelem um líquido anestésico durante a operação, junto com um vasodilatador, um anticoagulante e um quarto líquido que dispersa os demais por toda a área visada, garantindo a liquidez do sangue. São pequenos kits cirúrgicos descartáveis em forma de minhoca gorda. E funcionam. Aguarda-se para breve a reabilitação de ventosas no tratamento de pulmão fraco.

Aprendi também que existem vários tipos de sanguessugas, inclusive um tipo que vive em cavernas na Nova Guiné e se alimenta do sangue de morcegos — o que não deixa de ter uma certa justiça poética. Mas o ponto a que eu queria chegar, já que esta se trata de uma crônica inspiradora, é que há uma espécie de sanguessuga que vive em sovaco de tartaruga, outra que vive em narina de camelo e outra que vive em ânus de hipopótamo. É isto: nascem, não sei como, criam-se e morrem nestes habitats específicos, como se não bastassem sua forma pouco atraente e sua dieta limitada. Mas mesmo se não tivessem sido poupadas da consciência da sua situação, as sanguessugas que vivem em sovaco de tartaruga teriam o conforto de saber que pelo menos não viviam em narina de camelo, e que as que vivem em narina de camelo saberiam que, por pior que fosse seu destino, por mais que o mundo lhes parecesse injusto e sem perspectiva, estavam melhor que a sanguessuga no ânus do hipopótamo. Esta, a não ser pela glória inversa de ser o mais baixo que se pode chegar no mundo, não teria consolo nenhum.

Esta é a minha mensagem, irmão. Quando estiver desiludido, sem esperança, achando que nada pode ser pior do que como você se sente, pense na sanguessuga no ânus do hipopótamo. E reanime-se."

... subrescrito de imediato...